Folha de São Paulo :: 22 de junho de 2009.

Após 17 anos, "Picabu" retoma HQs
Quarta edição da revista de quadrinhos autorais reúne sete artistas e tem o corpo como tema

PEDRO CIRNE - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO

Entre o terceiro e o quarto números passaram-se 17 anos, mas a revista independente "Picabu" (que antes se chamava "Peek-a-Boo") está de volta. E, com ela, 12 histórias em quadrinhos experimentais, daquelas que fogem do convencional. É o que o grupo Bestiário, que criou a revista, busca: "histórias em quadros" autorais.

"Quadrinho autoral é mais do que fazer uma HQ e assinar. É buscar uma linguagem tanto gráfica quanto textual que seja apenas sua", diz Carlos Ferreira, um dos criadores da revista. "É interessante essa questão de experimento. Ajuda a amadurecer o processo de leitura".
Ferreira é um dos autores que voltaram à revista depois de 17 anos, da mesma maneira que Leandro Adriano, Nik Neves e Rodrigo Rosa. Três novos integrantes, Fabiano Gummo, Moacir Martins e Rafael Sica, somaram-se ao grupo a partir desta quarta edição.
O terceiro número teria sido o último, conta Ferreira, e cada um seguiu o seu caminho. "A ideia não era ter continuidade [para a revista]. Entretanto, sentimos a necessidade de possuir um veículo de expressão autoral".

Não há um grupo que edita a revista no sentindo convencional. É escolhido um tema ("corpo", no caso desta quarta edição), e os artistas criam suas histórias a partir daí. Segundo Ferreira, há um acompanhamento do processo criativo, mas sem projeto editorial: "O que nos importa é a liberdade de expressão".

"A nossa visão é a de que o quadrinho tem mais a oferecer do que o que aparece nas HQs industriais", diz Ferreira. "A impressão que eu tenho é de que existem muitas histórias em que o importa é o desenho, e ao texto não é dada tanta atenção. Quase não há trabalhos fora daquele maniqueísmo de bem versus mal".

"Picabu" foi lançada em junho no Brasil, mas antes disso teve um lançamento internacional, no Festival Internacional Viñetas Sueltas, de Buenos Aires. "Eu tenho uma ligação forte com o grafismo argentino, e eles estão mais maduros quanto à produção de quadrinhos autorais".
Um quinto número já está em andamento -e, desta vez, não demorará tanto tempo para ser lançado, embora não haja uma data definida. "Não queremos ter uma periodicidade editorial", diz Ferreira. "Nosso processo de criação parece o de um disco. Selecionamos as histórias que queremos contar. Quando as histórias estão fechadas, vamos para o desenvolvimento da revista".

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